quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Se a crise é lá fora, por que a bolsa brasileira cai mais do que as outras?

SÃO PAULO - Os Estados Unidos têm enfrentado sérios problemas econômicos ao longo deste ano. O desemprego elevado, a dificuldade de conseguir aumentar o teto da dívida pública no Congresso - que fez com que a nota de classificação de risco dos seus títulos públicos fosse rebaixada pela primeira vez na história pela agência Standard & Poor's - e a estagnação da economia são alguns dos problemas enfrentados pelos norte-americanos.
Já o Brasil, apesar de alguma dificuldade para trazer a inflação para o centro da meta, segue com uma economia consolidada, em crescimento e com bons níveis de emprego. Apesar das diferenças de cenário entre os dois países, contraditoriamente, o Ibovespa (principal índice da Bolsa de Valores de São Paulo) acumula queda de 23,12% neste ano (com base no fechamento da última quinta-feira, 22), enquanto o Dow Jones (índice que reúne as 30 ações mais negociadas da Bolsa de Nova York) caiu 7,29% no mesmo período.
Na Europa, continente que também passa por um processo delicado, com muitas incertezas por conta da dívida fiscal de países como Grécia, Espanha e Itália, apesar das bolsas acumularem queda maior do que nos EUA, as perdas são menores do que aquelas verificadas no mercado brasileiro.
Com isso, muitos investidores se perguntam: se o problema maior está lá fora, por que a nossa bolsa sofre mais do que os mercados internacionais?
Ibovespa começou mal o ano
De acordo com o analista-chefe da corretora SLW, Pedro Galdi, um dos motivos para o Ibovespa estar com um desempenho pior do que as outras bolsas este ano é que o mercado brasileiro já começou 2011 de forma conturbada, com as ações da Petrobras (que detém a segunda maior participação no Ibovespa) bastante penalizadas por conta de dúvidas em relação ao processo de capitalização da companhia (ocorrido no final de 2010) e por conta de episódios de ingerência do governo no comando da estatal.
Outra empresa que detém grande peso no Ibovespa e que sofreu no início do ano, afetando também o índice de uma maneira geral, foi a Vale. “O mercado penalizou as ações da Vale por conta dos problemas em relação a saída de Roger Agnelli (antigo presidente da companhia), que também teve forte influência do Governo”, diz Galdi.
Assim, segundo o analista, a bolsa brasileira já começou o ano em desvantagem em relação aos outros mercados mundiais. “Antes dos problemas lá fora se agravarem, a nossa bolsa já caia 10%, enquanto nos EUA o Dow Jones subia 10%", afirma Galdi.
Peso da commodities
De acordo com o analista, outro ponto que faz com que a bolsa brasileira esteja pior do que outros mercados mundiais é a forte dependência do nosso mercado em relação às commodities (matérias primas, como petróleo e minério de ferro), que são o negócio principal de grandes empresas listadas na bolsa brasileira.
“Quando se observa uma piora no cenário econômico, quem tem commodities é que sofre mais. Empresas de papel e celulose, mineração e petróleo acabam sendo prejudicadas”, afirma Galdi.
O analista da corretora Socopa, Osmar Camilo, concorda. “As empresas ligadas às commodities têm um grande peso no Ibovespa, então, sem dúvida o desempenho delas influencia a bolsa brasileira”, afirma Camilo.
Economias emergentes
Entretanto, o analista da Socopa ressalta que o desempenho ruim este ano não está restrito apenas à bolsa brasileira. Segundo ele, a maioria dos mercados emergentes está com desempenho de suas bolsas parecido com o Brasil este ano. “Se você olhar o índice MSCI de mercados emergentes, a queda está próxima daquela verificada na bolsa brasileira”, diz Camilo.
De acordo com o analista, em momentos de crise, apesar de não estarem no “centro do furacão”, as economias em desenvolvimento acabam sendo mais penalizadas. “Os mercados emergentes sofrem mais, porque ainda trazem incertezas para os investidores”, diz Camilo.
O especialista da MoneyFit, André Massaro, tem a mesma opinião. “Apesar da melhora na economia, o Brasil ainda é um país emergente e, usando um termo em desuso, de terceiro mundo. Em momentos de crise, muitos investidores fogem para países mais seguros, especialmente para os Estados Unidos”, afirma Massaro.
Volume de negócios
Outra questão diz respeito ao volume negociado na bolsa brasileira. O especialista da MoneyFit lembra que, quanto maior o volume negociado, menor o risco de ter uma volatilidade acentuada.
“A bolsa brasileira ainda tem um volume de negócios muito menor do que bolsas norte-americanas por exemplo, por isso sofremos mais com a volatilidade do que eles”, afirma Massaro.
Ele lembra que o mesmo acontece com as próprias ações das companhias. “Os papéis da Vale e da Petrobras têm um volume grande de negócios e por isso apresentam uma volatilidade menor do que outras empresas com volume menor de negociação”, diz.
Alta taxa de juros
Outra questão apontada pelos especialistas como um dos motivos para a bolsa brasileira estar com um desempenho pior este ano do que outros mercado é o fato do País possuir uma das maiores taxas de juros do mundo, beneficiando os investidores que aplicam em renda fixa.
Só este ano, a Selic (taxa básica de juro da economia) subiu 1,25 ponto percentual – mesmo com a queda de 0,50 p.p. anunciada na última reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) do BC. “Com certeza a alta taxa de juros atrapalha a bolsa”, diz Camilo, da Socopa. “Mas é bom lembrar que nós sempre tivemos taxas bastante altas”, completa.
Fonte: InfoMoney

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