segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Economia brasileira já está em desaceleração e Selic pode chegar a 9,5% em 2012

SÃO PAULO - A economia  brasileira está apresentando sinais de desaceleração, mesmo apresentando expressivo crescimento e sendo considerada um dos principais vetores positivos em meio a um cenário de crise dos principais países desenvolvidos. Essa é a análise apresentada pelo economista-chefe do BNP Paribas, Marcelo Carvalho, que espera um arrefecimento do PIB brasileiro no último trimestre desse ano.

Segundo Carvalho, a economia do Brasil está inegavelmente melhor que a de muitos outros países que enfrentam o agravamento de sua condição financeira e a diminuição do seu crescimento. O economista pondera, no entanto, que o País não está imune aos desdobramentos da situação internacional, e que pode sofrer com possíveis efeitos negativos.

O especialista avalia que a política de contração monetária apresentada pelo Brasil durante boa parte do ano de 2011 e a turbulência maior do que a esperada em relação à situação internacional levarão a menores taxas de crescimento no final desse ano quando comparadas às taxas do começo de 2011. "Os indicadores da atividade econômica mais fracos reforçam nossa convicção", afirma.

O sucessivo corte da taxa básica de juros da economia local, com uma política mais expansionista, será importante para a recuperação durante 2012, diz Carvalho. O economista espera um crescimento de 2,5% em 2012, o que, abaixo do esperado pelo mercado, mas longe de ser pessimista. Ele afirma ainda que a projeção do mercado para o PIB em 2012 também está sendo rebaixada, de 4,5% para 3,5%, de acordo com as últimas pesquisas.

Taxa Selic pode chegar a 9,5%

O especialista afirma que a responsabilidade pelo crescimento econômico menor não pode ser atribuída somente às autoridades governamentais brasileiras. Elas intensificaram a política de afrouxamento com um inesperado corte de 50 pontos-base na Selic em agosto e com um novo corte em outubro, em igual percentual.
Segundo o BNP Paribas, o corte da Selic pode chegar a 3 pontos percentuais ou mais, incluído o 1 ponto percentual das últimas reuniões. A taxa de juros pode chegar a 9,5% no segundo trimestre de 2012, diz o Banif, projeção mais agressiva do que o consenso do mercado.

Fonte: InfoMoney

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

A busca por um Brasil competitivo

Num mundo onde os padrões de concorrência são pautados pela China, o Brasil não tem outra saída senão - de uma vez por todas tornar sua economia competitiva. Há muito a fazer. É preciso começar já.

"A competição é uma das mais poderosas forças na evolução do homem. Não conhecemos o futuro, mas uma coisa é certa: à medida que a competição continue a evoluir, ela será a fonte de muito de nossa prosperidade." É assim que o americano Michael Porter, principal teórico mundial da competitividade, inicia seu mais recente livro, o magistral Competição, uma compilação de seus principais trabalhos realizados ao longo de décadas de estudo sobre como empresas e países podem se destacar no jogo global - e prosperar. No livro, há toda uma seção dedicada à disputa entre nações. Nela, Porter é enfático quanto às causas que decidem esse jogo. "A prosperidade de um país é criada, não herdada. Ela não deriva das riquezas naturais, do número de trabalhadores ou do valor da moeda. A competitividade de um país depende da capacidade de suas empresas de inovar. Ao fim, o sucesso resulta de um ambiente interno que seja dinâmico, desafiador e que mire o futuro."

Livros teóricos de economia e negócios não são exatamente os preferidos nas altas esferas do governo, aqui ou em qualquer lugar. Particularmente no Brasil de hoje, porém, o estudo de temas ligados à competitividade seria um investimento que se pagaria mil vezes. Dentre as nações mais competitivas do mundo estão países como Suécia, Estados Unidos, Alemanha e Japão - não por coincidência sociedades que oferecem um padrão de vida próximo do ápice que a humanidade conseguiu atingir até agora. Na ponta oposta choca o subdesenvolvimento de locais como Chade, Angola, Burundi e Zimbábue. O Brasil do presente está mais ou menos no meio do caminho entre os dois polos, o que é muito pouco para uma nação com ambições de potência. Ao longo deste semestre, conheceremos as prioridades da presidente Dilma Rousseff. Dilma vem mostrando um estilo bem menos eufórico do que o do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Seria ótimo se mostrasse também o reconhecimento e a disposição para transpor os imensos obstáculos impostos à construção de uma economia realmente desenvolvida. Os avanços nas duas últimas décadas nos colocaram no radar das principais corporações e investidores do mundo, mas produziram uma ilusão perigosa - a de que o Brasil já é um grande competidor global. Falso como uma nota de 3 reais. A verdade nua e crua é que estamos tomando uma surra de muitos de nossos competidores. Caminhamos lentamente, enquanto eles correm. Num mundo no qual a China se impõe como novo padrão da concorrência até para os americanos, não teremos outro caminho senão acelerar o passo.

É verdade que vivemos um bom momento econômico. Mas é prudente analisá-lo com algum distanciamento. Muito do bem-estar conquistado nos últimos anos deve-se ao boom do mercado mundial de commodities. Ninguém em sã consciência vai reclamar quando o preço de alguns de nossos principais produtos subir. O risco é o comodismo, a dependência em relação a mercados que são voláteis por natureza e que flutuam a despeito de nossos desejos. A pedido de EXAME, o economista Celso Toledo, diretor da consultoria LCA, elaborou um estudo mostrando que o crescimento médio de 4,5% do Brasil nos últimos cinco anos decorreu, em larga medida, da China, nossa grande cliente no mercado de commodities. Toledo mostra que, caso a economia chinesa tivesse crescido 7% ao ano desde 2005, e não a um ritmo de 11%, o PIB brasileiro teria evoluído a uma taxa média de 2,5% - o mesmo padrão medíocre das décadas de 80 e 90. Não há nada de errado em aproveitar os ventos de fora. Mas não devemos nos esquecer de que eles podem mudar de uma hora para outra. E que o melhor antídoto nessa hora é uma economia que, como diz Porter, produza resultados criados, e não herdados.

Nesse campo ainda estamos devendo. Sim, há um Brasil que recebe uma torrente de dólares, eleva seu nível de renda e abriga um mercado consumidor crescente. Mas esse mesmo Brasil tem custos que esmagam a iniciativa empreendedora e a capacidade competitiva das empresas - por melhores que sejam naquilo que depende só delas. É o velho Brasil ineficiente e lento, que carrega nas costas um Estado inchado, perdulário, burocrático e ineficaz. Nos últimos dois meses, EXAME ouviu cerca de 50 empresários, executivos, economistas e estudiosos do tema da competitividade para entender a raiz dos problemas de muitas empresas brasileiras no enfrentamento da concorrência externa. Em seu conjunto, o quadro é preocupante. No ranking de competitividade elaborado pelo Fórum Econômico Mundial, entre 139 países, o Brasil ocupa a 58 posição - atrás do Azerbaijão. Todos os nossos principais competidores, incluídos aí Coreia e China, estão bem à nossa frente. Os sinais de perda de fôlego da indústria brasileira começam a se avolumar. A fatia das exportações dos produtos industriais decresce mês a mês, na contramão do que se vê com as commodities. A balança comercial dos produtos industrializados, que já foi de 23 bilhões de dólares a favor do Brasil, fechou 2010 com um saldo negativo de quase 40 bilhões. Em muitas indústrias, a opção de comprar da China o que antes se fazia aqui é uma realidade cada dia mais presente. Há setores inteiros que estão em xeque - caso das fabricantes de alumínio, que em 2010 viram duas fábricas ser desativadas, uma da Vale e outra do grupo indiano Novelis, e podem desaparecer nos próximos anos afogadas por custos incompatíveis com o padrão internacional.

"Estamos num momento decisivo" afirma o economista Paulo Rabello de Castro, um dos mentores do Movimento Brasil Eficiente, cujo objetivo é encaminhar propostas para o país se desenvolver de forma mais competitiva nos próximos 20 anos. "O Brasil não deve se especializar. Precisa manter a diversidade que possibilita ora contar com o vento a favor de um lado, ora de outro. A amplitude de nossa economia é uma espécie de seguro." Isso significa não deixar que se perca a capacidade construída ao longo de décadas na área industrial. Rabello lembra que já houve o perigo contrário: o de o país desdenhar seu enorme potencial agrícola. Na década de 70, o governo militar centrou todos os esforços na indústria. O agronegócio, responsável atualmente por cerca de 25% do PIB sobreviveu graças a visionários e aos avanços tecnológicos obtidos pela Embrapa.

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Os avanços dos últimos anos colocaram o Brasil no radar dos investidores. Mas isso não é sinônimo de competitividade.
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Quem está numa situação de desvantagem na competição internacional só tem um motivo a comemorar - a possibilidade de um salto qualitativo numa velocidade inviável para os já desenvolvidos. De acordo com um estudo do economista americano Jeffrey Sachs, mudanças estruturais no campo da competitividade traduzem-se em impactos econômicos visíveis em cinco anos. Mas para isso é preciso demonstrar uma determinação à chinesa. Os especialistas ouvidos por EXAME são unânimes em apontar um cenário extremamente promissor caso o Brasil opte por se livrar de amarras em quatro terrenos - o sistema tributário sufocante, a legislação trabalhista esclerosada, a infraestrutura precária e uma taxa de juro única no mundo. Um ataque obstinado e consistente a esses problemas poderia levar o país a juntar-se ao grupo dos 40 melhores em termos de competitividade econômica, ao lado de Suíça, Suécia, Estados Unidos, China, Coreia do Sul e Polônia. Esse cenário, batizado de "Brasil Competitivo" é compatível com uma taxa de crescimento sustentável de 6% ao ano. Em uma década, o PIB per capita brasileiro poderia dobrar para 20 000 dólares, comparável ao padrão atual dos coreanos. O Índice de Desenvolvimento Humano, uma medida de bem-estar, ultrapassaria o nível da Itália. Repita-se: tudo isso, em dez anos. "Países como Japão e Coreia já mostraram os ganhos sociais de quem busca incessantemente a competitividade", diz o economista Stéphane Garelli, diretor do Centro Mundial de Competitividade do instituto IMD da Suíça e um dos mais respeitados estudiosos do tema no mundo.


AONDE QUEREMOS CHEGAR
Talvez o maior desafio, agora, não seja econômico. As soluções apresentadas nesta reportagem para os quatro grandes problemas da competitividade não são novas. A questão de fundo é a capacidade de nossas elites políticas de promover o choque proposto. Tem sido recorrente, desde a ascensão da China como potência, a comparação entre regimes autoritários e democracias em termos de capacidade de realização de reformas. A teoria não encerrou o debate - o máximo que se pode dizer, hoje, é que as ditaduras tendem a produzir transformações mais rapidamente, mas sem o consenso social necessário para sustentá-las ao longo do tempo. Há um ponto, porém, que parece valer para ambos os sistemas. Só é possível adotar reformas abrangentes se houver clareza de aonde se pretende chegar.

Traçar metas e cobrar resultados, duas condutas inerentes ao dia a dia das empresas privadas, é raridade no setor público - em especial, do brasileiro. No passado, o Japão talvez tenha sido o melhor exemplo de como um país pode alçar voo ao incorporar essas noções. Destroçado pela guerra, o Japão abraçou o ideal de um salto qualitativo na educação e da conquista de mercados externos - a mesma estratégia adotada mais tarde pela Coreia. Com isso, o Japão virou a segunda maior economia do mundo, posto somente agora perdido para a China. Mais recentemente, a Polônia repetiu a história. Há pouco mais de 20 anos, era um país comunista totalmente fechado. Em 1990, promoveu uma ampla modernização da economia com vistas à entrada na União Europeia. Investiu em infraestrutura e educação e tornou-se uma das economias mais dinâmicas do continente. Com mão de obra qualificada, mas com custos mais baixos, atraiu indústrias da vizinha Alemanha e viu seu produto interno bruto per capita crescer de 1500 dólares, em 1990, pra 11000, em 2009. Há dois anos, a Polônia era o 53 país mais competitivo. Atualmente, é o 39. "A imposição de metas para entrar na União Europeia foi decisiva para todos os avanços que tivemos", diz o economista Tadeusz Kowalski, professor da Universidade de Poznan, na Polônia.

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Na competição global, não há como vencer todas as brigas. E inevitável que os chineses incorporem parte de nossa produção
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O Brasil não tem um objetivo externo, como a entrada em um clube de países ricos. Precisa decidir por conta própria o que vai querer ser lá na frente, Trata-se de um ponto sobre o qual neste momento estão depositadas esperanças na visão da presidente Dilma. Aparentemente, ela tem mostrado sensibilidade para entender os problemas que atrapalham a competitividade do país. Convocou o empresário Jorge Gerdau Johannpeter para liderar um conselho que vai propor medidas para aumentar a eficiência e reduzir os gastos do setor público - a base para todas as outras reformas. Nomeou Fernando Pimentel para o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior com a missão de ajudar a fortalecer as empresas brasileiras no jogo global."Estamos preparando um pacote com incentivos à competitividade", diz Pimentel. "Vamos enviar ao Congresso Nacional projetos de lei em duas frentes: o alívio de tributos e a desoneração da folha. E há ainda a terceira vertente: a desburocratização?

Se a disposição for mesmo para valer, os produtores nacionais podem preparar suas máquinas. Na realização desta reportagem, EXAME deparou-se com um expressivo conjunto de casos de como o país tem perdido negócios devido à estrutura pesada de produção. Exemplos? Uma furadeira que custa 18 dólares para ser produzida no Brasil paga nada menos que 27 dólares de impostos. O mais incrível é que o similar chinês paga apenas 23 dólares ao chegar aqui - aí incluídos o frete da China ao Brasil, o custo portuário e o imposto de importação. É praticamente um convite para deslocar a produção para a Ásia - e, com ela, empregos qualificados. No caso dos automóveis, um carro bicombustível paga 29% de tributos. Nos Estados Unidos, a carga é de 5%. Na prática, um Toyota Corolla 1.8, que aqui custa 60000 reais, lá sai pelo equivalente a 27000 reais. O resultado é que o Brasil se especializou em produzir automóveis pouco sofisticados. "O efeito é perverso, porque a qualidade da mão de obra necessária é mais baixa, o trabalhador ganha menos e também vai comprar produtos mais baratos" diz o consultor José Roberto Ferro, presidente do Lean Institute especializado em competitividade industrial. Por essas e outras, não surpreende que a carga tributária seja a que recebe o maior número de críticas de empresários e economistas. A atual carga, de quase 40% da riqueza, está entre as maiores do mundo. Uma das metas do Movimento Brasil Eficiente seria limitá-la a 30% do PIB. "Batizamos essa reforma de 10-10-10. Um terço serviria para cobrir a Previdência, outro para estados e municípios e o terceiro para o governo central", diz Rabello. "Em 20 anos, o efeito seria extraordinário." Também seria bem-vinda uma mudança na forma de cobrança, a exemplo do que faz a Suécia. Lá a carga tributária é de 48% do PIB, mas mesmo assim o país aparece na segunda posição do ranking de competitividade. Isso porque os tributos são pesados sobre renda e lucros, mas leves sobre a produção e o investimento. No Brasil, oneram tudo, inclusive o faturamento os investimentos e as exportações. "Para construir uma fábrica, pagamos 18% de imposto sobre os investimentos. Na Suécia, pagam-se 6%. No Uruguai, 1%", diz Carlos Aguiar, presidente da Fibria, maior fabricante brasileira de celulose.

A Suécia é também exemplar na hora de devolver aos cidadãos o dinheiro dos impostos na forma de serviços. Aqui é o contrário. Isso fica evidente na qualidade da educação pública e nas condições de nossa infraestrutura. Estradas esburacadas, portos caros e lotados, aeroportos congestionados, falta de ferrovias e apagões de energia são reflexos da falta de investimento. Principal produto da pauta de exportação do agronegócio, a soja exemplifica como os problemas logísticos podem minar a competitividade. Graças às condições favoráveis de clima e solo e à tecnologia dos produtores, a soja plantada em Mato Grosso é uma das mais competitivas do mundo. Durante o transporte até o porto, no entanto, toda a vantagem é desperdiçada. A falta de ferrovias e hidrovias, somada às péssimas condições das estradas, faz com que o frete custe, em média, quatro vezes o valor pago nos Estados Unidos, onde o transporte é feito por barcaças. Além disso, aqui quase 5% da produção não chega ao destino final, acarretando perda anual de faturamento de 5 bilhões de dóláres.

O resultado: hoje a rentabilidade do produtor brasileiro é bem menor que a do americano. Na infraestrutura, o governo poderia ajudar não apenas com investimentos mas também com regras claras. A americana Cargill tenta desde 2002 obter uma licença para ampliar seu terminal portuário em Santarém, no Pará. Com o asfaltamento da rodovia BR-163 desde Mato Grosso, poderia triplicar o volume embarcado pelo porto. "De que adianta melhorar a estrada se o porto não terá capacidade para escoar toda a produção?", pergunta Paulo Sousa, diretor da área de grãos da empresa.

Um dos fatores mais gritantes que pesam contra o Brasil na competição internacional é o elevado custo de capital. Na média, o custo do dinheiro no Brasil está em 13% ao ano. Não há nada remotamente parecido no mundo. No Chile, o vizinho mais bem avaliado, não passa de 4%. Países como o Japão têm taxas próximas a zero. "Somos penalizados duas vezes. Primeiro porque temos de pagar caro. Depois, porque, diante do rendimento das aplicações financeiras, os acionistas querem retornos acima de 10% no Brasil, enquanto ficam felizes com a metade disso na Europa e no Japão", diz Cledorvino Bellini, presidente da Fiat e da Anfavea, associação que reúne os fabricantes de automóveis. A redução do custo de capital não é missão fácil. Depende de esforço do governo em cortar gastos e tomar menos recursos no mercado. "O governo usa grande parte dos recursos disponíveis nos bancos. Sobra pouco para o setor privado", diz Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central e sócio da gestora Gávea Investimentos. Caso o Brasil consiga chegar ao nível da Austrália, dona da segunda maior taxa de juro do mundo, os ganhos serão enormes. Segundo o professor Samir Cury, da Escola de Administração da Fundação Getúlio Vargas, se o juro real do Brasil caísse de 5% para o nível australiano, o país ganharia 1,5 ponto percentual em termos de crescimento. Além disso, a redução dos juros teria como efeito adicional uma pressão menor sobre o câmbio, uma das maiores reclamações dos exportadores.


SUCESSO TAMBÉM NO LONGO PRAZO
Países bem-sucedidos na arte das reformas são os que souberam dosar medidas de impacto de longo prazo com outras mais imediatas. Dada a nossa dimensão geográfica, é ilusório achar que os resultados na infraestrutura podem se materializar antes de uma década. Também é improvável que o peso dos impostos caia antes disso. Como os políticos raramente arriscam seu mandato por resultados tão distantes, é preciso conciliar essas medidas com outras, com efeitos rápidos. Nesse aspecto, nenhuma mudança seria tão eficaz quanto a modernização das leis trabalhistas. O custo de um trabalhador chinês é, em média, um terço do representado por um trabalhador brasileiro.

Salário no bolso é só parte dessa conta. "Meu produto chega aos Estados Unidos custando até 40% mais que o similar chinês", afirma Benny Rosset, dono da Cia. Marítima, uma das maiores fabricantes de biquínis do país. As vendas externas, que já responderam por mais de 20% do faturamento da empresa, hoje representam apenas 8%. Nos Estados Unidos, a Cia. Marítima atua hoje apenas na faixa dos biquínis mais caros, na qual o que vale é a inovação. As vendas em grande escala de artigos básicos para as redes americanas, como a Gap, já foram dominadas pelos chineses. Para tentar aliviar essa situação, o Ministério da Fazenda apresentou, em 2009, uma proposta de reforma que desonerava a folha de pagamentos em cerca de 10%. Para isso, a contribuição previdenciária seria reduzida de 20% para 14% e o salário-educação, de 2,5%, seria retirado da folha. Também está na mira o fim das contribuições de outros 2,5% para o sistema S, o que inclui instituições como Sesi e Senac.

Na competição internacional, não há como vencer todas as brigas. Parte do sucesso, diz Porter, é saber escolher as áreas nas quais se especializar. É inevitável que parte da produção industrial se transfira para a China, dada a escala obtida pelo país. O lamentável, porém, é que nem sequer sabemos quais são as áreas em que a luta merece ser travada. Com os custos do país tão acima dos concorrentes, não há como identificar nossos limites. Um cenário de competitividade abriria espaço para um fenômeno comum às nações que deram certo avançar em direção a uma economia sofisticada e capaz de gerar inovação. Os ganhos seriam tantos que é difícil acreditar que vamos perder a oportunidade. Diz Armínio Fraga, numa frase que esperamos profética: "Vai dar muito, mas muito trabalho. Mas no final o Brasil vai dar certo".

Fonte: Exame

Melhor e Mais Barato


Ao aplicar critérios sociais e ambientais na escolha de seus fornecedores, a Natura concilia sustentabilidade e custos mais baixos.

São Paulo - Preço costuma ser o mais delicado dos temas que envolvem a relação entre clientes e fornecedores. Quem compra procura gastar menos. Quem vende, ganhar mais. Chegar ao ponto de equilíbrio foi a essência dessa negociação até que outros aspectos — a sustentabilidade, entre eles — passaram a ser colocados na mesa.

Analise o caso da Natura, maior fabricante de cosméticos do país­. Desde janeiro deste ano, antes de fechar qualquer compra, seus executivos passaram a avaliar o fornecedor de acordo com sete indicadores socioambientais, como consumo de água, emissão de carbono e índice de acidentes.

O novo processo começou com a análise de 60 fornecedores de produtos — 50 antigos e dez novatos — que produzem sabonetes e embalagens e respondem por encomendas de 1,2 bilhão de reais por ano.

Em julho, após seis meses de análise, os contratos foram fechados, com o compromisso dos fornecedores de melhorar seus índices anualmente, de acordo com metas individuais acordadas entre as partes.

O resultado já é visível: uma redução de custos de 101 milhões de reais para a Natura e um avanço de 4% dos indicadores socioambientais dos fornecedores, porcentagem que deve triplicar nos próximos três anos.
“Nessa nova lógica, o menor preço ainda é fundamental, mas não basta”, diz João Paulo Ferreira, vice-presidente de operações e logística da Natura.

Transição
A inclusão de novos critérios para a escolha dos fornecedores é o segundo grande passo de um movimento que a Natura iniciou há cinco anos. Em 2006, a empresa passou a cobrar de sua cadeia de fornecimento o envio de relatórios trimestrais com dados socioambientais.

As informações são usadas como base para a gestão de metas globais da Natura, que envolvem, entre outros aspectos, a redução da emissão de carbono em 33% até 2013. (Até 2010, 21% desse compromisso havia sido atingido.) 
Agora, para transformar essas informações em critérios de contratação — ou até de exclusão — dos fornecedores foi preciso transformá-las em algo comparável em indústrias diferentes.

No caso de segurança dos funcionários, por exemplo, a Natura passou a considerar quanto o fornecedor gera de impacto para a sociedade ao evitar acidentes de trabalho.
Com base em dados de instituições como IBGE e Ministério da Previdência Social, chegou-se ao cálculo de que cada mês de afastamento de um empregado custa, em média, 10724 reais para empresas e governo. “O sistema é uma forma prática de quantificar iniciativas dos fornecedores e reconhecê-los por isso”, afirma Markus Striker, vice-presidente da consultoria A.T. Kearney.

Para a transição, em agosto do ano passado 50 fornecedores foram reunidos pela Natura em um hotel em São Paulo. Durante dois dias, eles foram informados sobre os novos critérios e como poderiam melhorar seus indicadores dali por diante.
Na ocasião, a Natura também anunciou que novos fornecedores seriam chamados e os pedidos, divididos — de modo a estimular a concorrência entre eles.

Em novembro, esses novatos passaram a ser contatados. “Queríamos que nossos antigos parceiros melhorassem preços e indicadores para entrar na disputa”, diz Ricardo Faucon, diretor de suprimentos da Natura.
A subsidiária brasileira da mexicana Vitro, fornecedora de frascos para a Natura desde 2006, conseguiu quintuplicar suas vendas mesmo com a chegada de novos competidores.
Contou pontos o fato de sua emissão de carbono ser cerca de 20% menor que a média dos demais fornecedores. “Já estávamos organizados para operar de maneira eficiente e fomos premiados por isso”, diz Paulo Villas, representante da Vitro no Brasil.

Juntamente com as encomendas, a Vitro levou uma lição para casa: terá de melhorar outros indicadores socioambientais, como o de segurança do trabalho.

A partir de setembro, a empresa fará avaliação médica anual dos 2000 funcionários da fábrica no México, onde são produzidos os itens vendidos para a Natura. Antes, a avaliação não era feita com regularidade.

O novo sistema de compras abriu espaço para que dez novos fornecedores fossem contratados pela Natura. Entre eles está a América Tampas, fabricante paulista de tampas para embalagens de plástico, que batia na porta da empresa de cosméticos — sem sucesso — havia três anos.

Em novembro, seus executivos foram convidados a participar do processo de seleção que levaria em conta os indicadores socioambientais. “Durante seis meses, apenas fornecemos informações”, diz Alfredo Ramenzoni Izzo, diretor da América Tampas.
“Mas não sabíamos se seríamos ou não contratados.” Deu certo — em agosto, a empresa fechou um contrato de dois anos com a Natura. Durante esse perío­do, terá de melhorar indicadores como consumo de água e de energia. 

Há poucas semanas a Natura deu início a uma nova etapa no processo de seleção. Desta vez os escolhidos foram cerca de 100 fornecedores de itens usados na linha de produção — entre eles, materiais químicos e válvulas. A seleção deve ser concluída no primeiro semestre do ano que vem.

O passo seguinte será estender, até o fim de 2012, os novos critérios de compras dos demais 130 fornecedores ligados à fabricação de produtos. A partir daí, o sistema será levado para a escolha e manutenção de 4 000 prestadores de serviços, como logística e marketing.
 
Fonte: Exame

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Maganize Luiza é exemplo para empresas familiares


Profissionalismo à frente dos negócios deve ser parte fundamental do projeto de expansão de empresas familiares
Apesar de a crise nos países desenvolvidos ter se intensificado e de o governo brasileiro já ter revisto as previsões de crescimento para o país, especialistas afirmam que mercados emergentes como o Brasil continuarão suprindo as demandas internacionais por commodities e seguirão com economias aquecidas. Neste contexto, as companhias nacionais precisam lidar com cenários antagônicos: se proteger das ameaças externas e aproveitar as oportunidades internas de crescimento. Sendo assim, a solidez de empresas familiares, que representam 98% do total no Brasil, segundo dados de 2011 do IBGE, é parte importante da engrenagem econômica do país.
No entanto, pesquisas mostram que, aproximadamente, de cada 100 empresas familiares no Brasil, 30 sobrevivem à segunda geração, e apenas cinco chegam à terceira. No atual cenário macroecômico, em que fusões e aquisições acontecem com freqüência e produtos importados representam cerca de 20% do mercado brasileiro, a concorrência em qualquer setor está cada vez mais forte. As empresas, portanto, precisam ampliar horizontes e organizar os negócios se quiserem crescer – ou até mesmo sobreviver.
Para abrir capital, por exemplo, é necessário que a empresa tenha transparência e metas claras e objetivas de rentabilidade (o que nem sempre ocorre em empresas familiares), pois passará a prestar contas a acionistas. E esse pode ser um caminho vantajoso: o Magazine Luiza, empresa familiar, lançou ações na Bolsa no começo desse ano, captando R$ 925,8 milhões.
Analistas de mercado apontam que o segredo da expansão da rede, que começou com uma loja na cidade paulista de Franca há mais de 60 anos e hoje tem mais de 600 espalhadas pelo Brasil, é o profissionalismo à frente dos negócios, que não permite que os egos familiares ganhem destaque. Vale lembrar ainda que recentemente a companhia deu mais um passo rumo ao crescimento e adquiriu o Baú da Felicidade, que era do grupo Silvio Santos.
Mesmo que a abertura de capital não esteja nos planos imediatos da empresa, adotar com afinco práticas de governança corporativa e implantar regras claras de gestão é o primeiro passo na busca pela perenidade dos negócios – afinal uma empresa familiar se preocupa em deixar um legado para as próximas gerações.
Definir a estrutura organizacional e os papéis dos executivos que vão conduzir a profissionalização deve fazer parte das novas regras logo de início. Os líderes merecem atenção especial durante esse processo, pois serão eles que irão ajudar a consolidar as práticas necessárias. Um dos desafios é identificar as posições-chave para essa empresa que está se remodelando, analisar se contratações são necessárias e buscar talentos dentro da própria empresa e entre os membros da família (processo conhecido como assessment).
A família não deve ser necessariamente afastada do controle, mas é importante fazer uso de critérios racionais para avaliar a competência dos executivos e as necessidades de mudanças no quadro de diretores. É possível até que a melhor solução seja uma administração mista. De acordo com pesquisa realizada em 2010 pela consultoria McKinsey, empresas familiares têm rentabilidade 3% superior, em média, à de negócios não familiares, justamente pelo comprometimento do clã fundador. Se for detectada a necessidade de contratação de gestores externos, o que ocorre na maioria dos casos, esta deve ser incorporada ao planejamento estratégico.
O segundo passo é integrar a cultura da empresa, que não pode ser desprezada, a essa nova realidade. Para conquistar os objetivos da nova linha de gestão, é fundamental avaliar as competências e o perfil dos executivos para desenvolver e fortalecer comportamentos, alinhando a liderança à estratégia do negócio. Ter um acompanhamento ao longo do processo, que avalie os resultados e promova ajustes, contribui para consolidar a nova administração.
A profissionalização das empresas familiares é, portanto, peça-chave para seu sucesso e perpetuação. Além de garantir altos padrões de governança, gestão e performance, a profissionalização é também um antídoto contra eventuais desavenças familiares que possam, no futuro, comprometer a saúde e até mesmo a sobrevivência do negócio.

Patricia Epperlein é sócia-presidente da Mariaca, empresa de gestão de capital humano.

D'Paschoal fecha lojas de pneus e muda conselheiros


Grupo decide encerrar unidades, algumas delas com mais de 20 anos, devido à competição com produtos chineses e hipermercados
O grupo D’Paschoal decidiu fechar metade das lojas dedicadas apenas à venda de pneus para os consumidores finais. O grupo encerrou ainda o conselho de administração de sua principal empresa, a Comercial Automotivo D’Paschoal, para formar um novo conselho e dar mais agilidade à gestão, segundo afirmou o presidente da companhia, Luiz Norberto Paschoal.
Algumas das lojas que serão fechadas, como a da Avenida Santo Amaro, possuíam mais de vinte anos. Segundo Paschoal, a invasão de pneus chineses e a entrada dos hipermercados nesse segmento acirraram a concorrência e inviabilizaram a manutenção de algumas unidades, sobretudo em regiões onde os preços dos aluguéis dos pontos de venda subiram muito nos últimos anos.
“Hoje, as pessoas também estão trocando de carro, não de pneu. Muitas pessoas agora compram um carro novo antes de precisarem de pneus novos”, afirma Paschoal. Segundo ele, atualmente, não são muitas as lojas do grupo que só vendem pneus para os consumidores finais – ele não precisou o número de lojas que serão fechadas. Esse tipo de ponto de venda está concentrado na cidade de São Paulo.
A empresa vai concentrar seus esforços em setores que estão crescendo no País, como, por exemplo, o segmento de caminhões pequenos. Esse mercado está se expandindo com a maior procura por serviços de entrega domiciliar e a restrição ao tráfego de caminhões nas grandes cidades.
Mudança do conselho
Sobre a decisão de renovar todo o conselho da principal empresa do grupo, o empresário afirmou que a medida era necessária para trazer uma visão mais crítica à empresa. “No conselho, sempre era eu o mais duro, e eu sou o presidente. O conselho precisa ser crítico. O conselheiro está lá para trabalhar e tomar posições que muitas vezes não são as mais agradáveis. O conselho não se reúne para tomar cafezinho”, afirmou Paschoal, que participou em São Paulo de um seminário sobre governança corporativa em empresas familiares, promovido pelo IBGC (Instituto Brasileiro de Governança Corporativa).
O conselho da empresa era formado por 11 conselheiros, dos quais seis eram externos e o restante de membros da família. O novo conselho está sendo ainda definido mas, segundo Paschoal, a ideia é que dois terços dos assentos sejam ocupados por conselheiros independentes.
Grupo D'Paschoal
Fundado em 1949, o Grupo D’Paschoal é líder no segmento de pneus e baterias, amortecedores e freios. A empresa está presente em sete Estados e possui mais de 200 lojas, com a marcas D’Paschoal e mais de 300 lojas com a bandeira Top Service. O grupo também controla a DPK, distribuidora de autopeças, com 17 centros de distribuição no País, e a AutoZ, um dos primeiros portais especializados em acessórios, som automotivo e auto-peças e líder no segmento automotivo online.
Fonte: Claudia Facchini, iG São Paulo | 24/10/2011