quarta-feira, 11 de julho de 2012

Quer recurso para inovar? Então, corra atrás

O Brasil tenta avançar no campo da inovação. Para isso, lança mão das suas armas para vencer a falta de cultura que ainda existe em torno desse tema e para aproveitar melhor os instrumentos disponíveis para apoiar as estratégias das empresas

Desafiados a dar um passo a frente em termos de inovação, as empresas e instituições públicas brasileiras acertam os ponteiros para garantir que o País aproveite o bom momento econômico e posicione os seus produtos e serviços de forma mais competitiva. A boa notícia é que recursos estão disponíveis, há algum tempo, através de financiamentos e benefícios fiscais estaduais e federais. A má é que as empresas ainda não acordaram para essas possibilidades.

Existem cerca de 50 instrumentos que podem ser acessados junto a instituições como Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (Bndes), Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), Sebrae e agências de amparo à pesquisa. Mas são poucos os empresários que costumam ir atrás. 

A Lei 11.196, conhecida como Lei do Bem, existe desde 2005 e tem como grande vantagem o fato de ser um incentivo fiscal, como o abatimento de Imposto de Renda e Contribuição Social, que pode ser tomado de forma automática. Mas, no ano passado, das 100 mil empresas brasileiras, apenas 653 utilizaram esse instrumento. 

“O Brasil tem hoje uma boa base instalada de apoio à inovação através de incentivos e marcos regulatórios, e com níveis diferenciados de burocracia. O que falta é proatividade da iniciativa privada para acessá-los”, comenta o vice-presidente da Associação Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento das Empresas Inovadoras (Anpei), Guilherme Marco de Lima.

Os motivos que fazem com que os empresários ainda atuem de forma tímida nessa seara são muitos e poderiam originar uma tese. Mas tudo começa pela falta de uma cultura do risco no Brasil. Em muitas companhias, a inovação ainda não é aceita como um projeto de médio e longo prazo e, sim, como uma iniciativa que deve ser capaz de trazer resultados imediatos.

Mais especificamente sobre o acesso a instrumentos de apoio a essa prática, pesa a falta de conhecimento e o medo de perder muito tempo em busca das documentações necessárias para comprovar que a empresa é inovadora e, assim, poder usufruir dos benefícios. “As burocracias existem, mas isso é apenas uma barreira, não um impeditivo para as empresas buscarem a diferenciação”, alerta Lima.

O gerente sênior executivo de Consultoria Tributária da Ernst & Young Terco no Rio Grande do Sul, Paulo Corazza, explica que o que se faz é uma consulta prévia para verificar aderência do projeto às linhas disponíveis. E, apenas em uma segunda etapa, quando o benefício já está confirmado, é que a empresa precisa sair em busca de documentos e das comprovações. “O início é mais difícil, mas depois os profissionais se acostumam com a dinâmica e tudo fica mais natural”, diz. A Ernst & Young Terco possui clientes no Estado para os quais presta consultoria nessa área: identifica as oportunidades, elabora os projetos e faz todo acompanhamento até a aprovação. 

A necessidade de comprovar que merece receber o incentivo  faz parte do jogo. O Brasil, inclusive, possui uma metodologia de oferta de incentivo fiscal à inovação semelhante à de países como os Estados Unidos. A diferença é o montante que as nações desenvolvidas costumam direcionar para essa área e a maturidade acerca do tema, inclusive no que se refere à inserção das pequenas e médias.

Muitas vezes, os valores mínimos que podem ser financiados são muito altos para uma operação de menor porte. Em outros casos, como no da Lei do Bem, as maiores beneficiadas são as companhias optantes do lucro real. “As grandes já estão bem acostumadas com instrumentos da Finep e do Bndes, mas para as de menor porte precisamos avançar na criação de um ambiente favorável” diz o secretário de Inovação do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Nelson Fujimoto.

Keko aposta no Pró-Inovação e na Lei do Bem

 

Do início de 2010 e até o final de 2012, a Keko terá lançado de 60 a 80 novos produtos no mercado, todos acessórios desenvolvidos pela empresa gaúcha para o segmento de veículos automotores. O desafio é criar produtos que atendam às necessidades do mercado, especialmente dos segmentos que estão crescendo impulsionados pela expansão da classe média. 

Fundamental para garantir a competitividade, a velocidade de lançamentos depende cada vez mais da capacidade de a empresa inovar. “Não somos produtores de peças e, sim, de personalização. E isso só é possível com muita pesquisa e desenvolvimento”, observa o diretor-administrativo-financeiro da Keko, Volnei Ebertz. Segundo ele, a empresa sabe que se não acompanhar essas mudanças, acabará ficando para trás.

Por isso mesmo, a Keko vem, há alguns anos, estudando as oportunidades que existem nos projetos de incentivo à inovação no Brasil, através de instrumentos estaduais e federais. Com o apoio de uma consultoria jurídica, a Keko foi a primeira a aderir ao Pró-Inovação no Rio Grande do Sul, regulamentação da Lei Estadual de Inovação voltado para o incentivo de atividades inovadoras no ambiente produtivo. A lei garante um desconto de até 75% do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) gerado pelas novas ideias.

O contrato foi assinado no final do ano passado e a expectativa é começar a usufruir este ano. A projeção da Keko é que 1% do faturamento retorne via incentivo. O mesmo percentual é esperado com a Lei do Bem, outro instrumento que oferece vantagens fiscais para as companhias que apostam na inovação. 

Já quando o assunto é aumentar a capacidade de investimento, a Keko conta atualmente com R$ 15 milhões junto a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep). Esses recursos fazem parte do plano estratégico para os próximos cinco anos da empresa - de 2012 a 2016 – e que estão sendo repassados com o aval do Badesul. A empresa possui um terço deste valor em mãos e até o final do ano terá a totalidade. 

Ebertz comenta que o caminho para acessar o crédito junto a Finep não é dos mais simples, mas a parceria com o Badesul tem ajudado nesse meio de campo. “O banco ajuda a viabilizar que as empresas consigam acesso ao recurso na medida em que entra como o garantidor junto a Finep”, destaca.
O gestor comenta que esse é um recurso diferenciado, que permite que a Keko possa antecipar um movimento estratégico e lançar produtos diferenciados em um tempo menor. A empresa deve fechar esse ano com faturamento de R$ 120 milhões e, até 2016, a meta é chegar a R$ 250 milhões. Esse prazo deve ser encurtado em dois anos a partir desses recursos em inovação. “O nosso objetivo é manter um ciclo contínuo de investimento em novos produtos”, diz.

Medo de arriscar impede avanços

 

Um dos principais gargalos que o Brasil enfrenta, quando o assunto é a inovação, é a falta de uma melhor conexão entre o conhecimento de alto nível que é produzido dentro das instituições de ensino nacionais e a sua transferência para a iniciativa privada. 

Prova disso é que o Brasil está em 13º na produção de artigos científicos sobre descobertas feitas no meio acadêmico, mas ocupa a 24º colocação entre os países mais inovadores do mundo. “Ainda falta tempo, visão e cultura para que o conhecimento gerado dentro da universidade possa ser inserido dentro do processo produtivo”, comenta o secretário da Ciência, Tecnologia e Inovação (SCTI), Cleber Prodanov.

De uma forma geral, empresas, poder público e até mesmo as universidades ainda não despertaram para a importância desse tema. Perceber a necessidade de fazer um trabalho de base bem feito, capaz de levar a processos e produtos diferenciados, é o passo esperado para aumentar a competitividade do País. 

Especialistas defendem ainda que as empresas aumentem os recursos voltados para o financiamento da inovação, passando a atuar junto com o governo. Atualmente, cerca de 1,19% do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil é investido em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D). Estima-se que 60% desse total sejam recursos governamentais.

Nos países membros da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o índice é de 2,5%. “A inovação tem que ser um pilar de negócio das empresas. Só assim conseguiremos competir globalmente e sobreviver localmente”, relata o vice-presidente da Associação Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento das Empresas Inovadoras (Anpei), Guilherme Marco de Lima. Mas alguns sinais começam a mostrar que existe uma evolução em curso nesse sentido. Até bem recentemente, o País tinha mais recursos disponíveis para inovação em órgãos como a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), do que interessados. 

Boa parte dos milhões reservados para o mercado investir em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) ficava parada nos cofres da entidade. Neste ano, a história já é diferente. A Finep, por exemplo, tem uma carteira de R$ 14 bilhões para financiamento de projetos e, ainda assim, existem mais interessados que do que dinheiro disponível.

Isso não quer dizer que a falta de atenção das empresas seja algo completamente resolvido. Tanto que, no Rio Grande do Sul, o Pró-Inovação, uma regulamentação da Lei Estadual de Inovação que oferece benefícios fiscais para as empresas que investirem em P&D, está com uma procura abaixo do projetado. 

Atualmente, pouco mais de 20 players estão buscando esse benefício. Não era isso que o secretário da SCTI tinha em mente quando sentou à mesa para negociar os percentuais de benefícios com a Secretaria da Fazenda. “Eu esperava pelo menos 200 pedidos até o final do ano”, admite Prodanov. 

Como tem capacidade para operar com mais empresas, a SCTI acredita que, com mais divulgação e com os primeiros cases de sucesso aparecendo, o programa possa deslanchar. “O Pró-Inovação é uma regulamentação relativamente nova, e a tendência é que com o tempo se torne mais conhecida das empresas”, relata o gerente sênior executivo de Consultoria Tributária da Ernst & Young Terco no Rio Grande do Sul, Paulo Corazza. Situação similar já aconteceu com outros instrumentos no Brasil, como a Lei do Bem, que demorou para começar a ser acessada pelas empresas.

Fonte: Jornal do Comércio

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