A expectativa de que o país enfrentará mais um ano de
baixo crescimento e inflação próxima do teto da meta acendeu o alerta para a
trajetória da economia brasileira. Segundo especialistas ouvidos pela Agência
Brasil, o termo estagflação descreve adequadamente o cenário econômico atual,
apesar de o fenômeno não se repetir na mesma intensidade que há 40 anos.
Criado na década de 1970, o vocábulo significa a
combinação de estagnação da economia com preços em alta. A palavra foi usada
para descrever a economia mundial depois do primeiro choque do petróleo, quando
o reajuste dos combustíveis provocou a elevação repentina de custos, que fez a
inflação aproximar-se de 10% ao ano em alguns países desenvolvidos, e
interrompeu o crescimento econômico em todo o mundo.
Para os economistas, a inflação em alta e o crescimento
baixo indicam que o modelo de crescimento baseado na expansão do consumo, que
impulsionou a economia brasileira nos últimos dez anos, esgotou-se. De acordo
com eles, o Brasil só conseguirá sair dessa situação se fizer mudanças
estruturais que destravem o investimento e aumentem a competitividade do país.
Ex-diretor do Banco Central (BC), Carlos Eduardo de
Freitas concorda que o país atravessa um cenário de estagflação. Por um lado, o
mercado de trabalho aquecido, com pleno emprego e renda da população em alta,
pressiona a inflação. Por outro, a falta de investimentos em infraestrutura e a
utilização elevada da capacidade da indústria, mostram que a oferta continua
estagnada. “Numa economia operando a pleno emprego e com a capacidade instalada
totalmente comprometida, não tem como o país crescer muito sem pressionar a
inflação”, destaca.
Para Freitas, as estimativas de crescimento do Produto
Interno Bruto (PIB - a soma das riquezas produzidas no país), oficiais e do
mercado financeiro, só estão em torno de 3% neste ano porque já incorporam as
projeções de inflação próxima de 6,5% (teto da meta). “Esse nível de
crescimento só poderia ser atingido se a indústria tivesse capacidade ociosa. A
capacidade de crescimento com inflação no centro da meta [4,5%] está em apenas
1%, no máximo 1,5%”, diz.
Professor da Fundação Getulio Vargas (FGV), Robson
Gonçalves também acredita que o país passa um período de estagflação desde
2011. “Nos anos [1970], o termo era usado em outro sentido, mas não acho a
palavra exagerada para descrever a economia brasileira hoje”, declara. Ele
também acredita que o principal entrave para o crescimento não é a demanda, mas
a falta de investimentos, públicos e privados, que melhorem a infraestrutura e
aumentem a produção.
Em 2011, o PIB brasileiro cresceu 2,7% e a inflação
oficial pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) atingiu 6,5%. No ano
passado, o PIB cresceu apenas 0,9%, com inflação de 5,84%. Para este ano, as
instituições financeiras projetam crescimento de 3% para a economia e IPCA de
5,68%, segundo o Boletim Focus, pesquisa divulgada toda semana pelo Banco
Central. A previsão para o PIB, no entanto, pode cair depois do reajuste de
0,25 ponto percentual na taxa Selic, decidido na última quarta-feira (17).
Na avaliação dos dois especialistas, o governo está
lidando de forma errada com o cenário de baixo crescimento e inflação em alta.
“Em vez de procurar enfrentar os motivos que travam o investimento, o governo
continua a estimular o crédito e a reduzir impostos”, critica Gonçalves. Para
ele, a mudança de política econômica dos últimos anos provocou o receio dos
empresários de investir. “O governo mexeu nos pilares da política econômica,
reduzindo o superávit primário [a economia que o governo faz para honrar
compromissos financeiros, inclusive o pagamento de juros da dívida] e usando
outros instrumentos para controlar a inflação. Isso cria incerteza e inibe o
investimento privado”, acrescenta.
O ex-diretor do Banco Central também cita o aumento da
incerteza entre os grandes investidores como o principal fator que tem impedido
o crescimento econômico, mesmo com os estímulos dados nos últimos anos, como os
financiamentos subsidiados do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e
Social (BNDES) e os leilões de concessões de rodovias, ferrovias e aeroportos.
“A decisão de investimento depende de expectativas. Se o empresário não tiver
segurança de que o governo deixará de intervir na economia, não investirá,
mesmo com esses incentivos”, alega.
Fonte: América Economia
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