São Paulo - "Seja dono de sua
carreira, mas tenha humildade para ouvir e aprender." O conselho não vem
dos consultores da área de recursos humanosv Muito menos dos estudiosos da
Geração Y. A frase é da paulistana Raquel Machado, de 24 anos, coordenadora de
controle de riscos do banco Itaú. O discurso da jovem não
revela as angústias que ela teve de superar no início da vida profissional. Mas
elas existiram e são comuns para quem está começando. Para a Geração Y, as
aflições estão relacionadas à vontade de crescer rápido, ter boa remuneração e
conquistar qualidade de vida.
"São profissionais ambiciosos, que buscam uma
identidade entre seus valores e os da empresa", diz Lucas Peschke, diretor
da consultora Hays. Conhecer
melhor essas ansiedades pode ajudar a diminuir as angústias e acelerar o
amadurecimento. De acordo com uma pesquisa da
Câmara Americana de Comércio Brasil-Estados Unidos(Amcham), que ouviu 85 gestores de RH
em 2012, 80% deles acreditam em um aumento significativo do número de jovens nos
cargos de gestão nos próximos cinco anos.
"O aquecimento do
mercado e a disputa por mão de obra qualificada forçam as empresas a antecipar
esse processo para reter os melhores", diz Mara Lacerda, diretora da
Amcham. A progressão acelerada não acontece sem sobressaltos.
"Quando eles se tornam gestores, enfrentam os mesmos problemas dos chefes
que eles muitas vezes criticavam", afirma Fábio Ponzio, gerente de
projetos da consultoria Across, que assessora grandes empresas em programas de
trainee. O estudante de administração de empresas Eduardo Laureano, de 24 anos,
coordenador de produção da fábrica da 3M de Ribeirão Preto, sentiu essa mudança
na pele. "Com mais informações, mudei todos os pontos do meu discurso.
Quando assumimos um cargo de liderança, percebemos que as promoções acontecem
para quem se destaca. Não basta só querer", diz.
Segundo Eduardo, que começou a
trabalhar na 3M aos 18 anos, a ansiedade por ser promovido foi diminuindo à
medida que ele recebia feedbacks positivos dos chefes. "Cada pessoa tem um
talento, basta descobrir qual é o seu e buscar uma base técnica ou pessoal para
se destacar."
Hoje, Eduardo é gestor de
uma equipe com 21 pessoas. Veja as dicas, reveladas por seis jovens gestores,
que vão ajudar na prática quem está dando os primeiros passos na
carreira.
Entenda os processos
Identifique processos-chaves da empresa e torne-se
especialista em um deles. É o conselho do paulistano Lucas Caputo Martins, de
23 anos, subgerente do hotel Ibis de
Sorocaba, que conta com uma equipe de 27 pessoas. Formado em hotelaria, Lucas
começou a trabalhar na rede Accor há quatro anos como recepcionista.
"Desde o início eu
já sabia que queria ser chefe, mas o que me angustiava era como eu conseguiria
me desenvolver e me expor para chegar lá", diz. Para minimizar a
ansiedade, o jovem inspirou-se em um dos líderes da
organização. Com o exemplo, Lucas decidiu tornar-se especialista nos processos
ISO 14001 e 9001, certificações importantes para o setor.
"Estudei muito o
assunto e, quanto mais me especializava, mais conseguia tratar situações
adversas, e comecei a me destacar. Isso me deu mais tranquilidade. A promoção
para subgerente foi uma consequência."
Controle a ansiedade
Há nove meses, Izabela Santos, de 25 anos, foi promovida de
trainee a supervisora de suporte
ao comercial da Alesat, rede de distribuidores de combustíveis com escritório
em Belo Horizonte. Izabela buscou ser flexível, adaptar-se ao escopo do
trabalho e ter atitudes de líder.
"Quando começamos a ter
feedbacks positivos, a ansiedade diminui. Fiquei mais tranquila e, agora, estou
me desenvolvendo para ficar preparada para o próximo passo, que é o cargo de
coordenadora."
Busque qualidade de vida
"É preciso impor limites", diz Maíra Chiaranda, de
27 anos, gerente da área de consultoria da
Deloitte de Campinas, que tem 17 pessoas na equipe. "Como viajamos muito,
o risco é passarmos 24 horas trabalhando e falando das questões do cliente. No
início, os chefes não se preocupavam com isso, o que me desmotivava", diz.
Quando Maíra virou chefe,
ela incluiu nas metas de cada projeto respeitar as horas de lazer. "Além
de dar exemplos, procuro fazer caminhadas, ir ao cinema, jantar com a equipe
para descontrair, mas também cobro deles que tenham essa preocupação com a
qualidade de vida."
Avalie a relação
Para o engenheiro paulistano Bruno Shiguemichi, de 25 anos,
da Accenture, os jovens de sua geração querem tudo de imediato.
"Portanto, um dos pontos de atenção é avaliar se a
relação será de longo prazo para investir ou não na organização." Segundo ele, a calma veio com o tempo e com os
exemplos dos líderes. Em menos de dois anos, Bruno foi promovido e não pensa em
sair da empresa.
Fonte: Revista Exame, por Roberta Queiroz.
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